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TRABALHO COM VICIADOS
TRABALHO COM VICIADOS

 

 

A Igreja a serviço da recuperação de vidas

Considerado o maior problema de saúde da atualidade, o uso de drogas cresce assustadoramente a cada ano. O Ministério da Saúde aponta que já são no País mais de 600 mil usuários de crack. Estima-se, inclusive, que, no Brasil, existam 1,5 milhão de pessoas dependentes de substâncias entorpecentes, como maconha, cocaína e heroína. 



Paralelo a isso, cresce também o número de centros destinados à recuperação desses usuários, mas infelizmente não na mesma proporção. Ainda há poucos locais de apoio a viciados e o que se tem visto é que o envolvimento da Igreja, de maneira geral, nesse trabalho é mínimo.

Pastores poderiam atuar como conselheiros; jovens trabalhariam no evangelismo, na música, na parte esportiva; os adultos seriam responsáveis pelos estudos bíblicos; as mulheres seriam ferramentas importantes para a alimentação e para promover cursos aos usuários de drogas que estão internados nessas instituições. Cada um teria que ter um papel na recuperação do viciado, mas não é isso que ocorre. Mesmo diante do quadro de destruição que a droga tem pintado em todo o mundo, a Igreja pouco tem se envolvido.

Mas precisamos de gente, precisamos de pessoas para orar, ler a Bíblia, cantar, dar cursos, atuar como psicólogos, costureiras etc. A maioria dos internos da comunidade é filho de membros de igrejas, mas ainda sinto que a igreja não acordou para esse problema. A droga está nas nossas casas e temos que reagir", disse.

o fato de haver tantos filhos de cristãos internados em casas de recuperação é a prova de que a igreja precisa se envolver mais nesse trabalho. "Para nossa tristeza, a maioria das pessoas que está internada em comunidades terapêuticas é de família evangélica e conhece o Evangelho. Isso acontece porque o diabo quer derrubar quem tem conhecimento da verdade. Há jovens que passaram por aqui e já retornaram cinco vezes, e sempre insistimos com eles que Jesus nunca desiste de um filho", afirmou o pastor Antenor.

O dia a dia na Comunidade Terapêutica Betel é bastante agitado, com atividades em todas as áreas, mas, em vários momentos, os internos viram os professores. Há aulas de violão, pandeiro, guitarra, informática, artesanato, futebol e ainda o atendimento psicológico, psiquiátrico e psicanalítico, assim como de assistência social, no acompanhamento das famílias. Quem tem um pouco mais de conhecimento ensina o outro. "Em nove anos de trabalho, já atendemos a mais de 500 pessoas. Nosso objetivo é duplicar o número de vagas, mas, para isso, temos que conseguir mais voluntários", contou.

E vale qualquer ajuda, destaca o pastor. Há um grupo de empresários, por exemplo, que integra o Projeto Proteínas e doa constantemente carne para a Comunidade Terapêutica Betel. Há igrejas que também frequentemente fazem campanha e doam roupas, materiais de limpeza, alimentos. Já a Convenção Batista Capixaba ajuda mantendo uma psicóloga no atendimento dos internos da instituição.

"Os internos precisam sair daqui prontos para enfrentar o mundo. A família precisa estar firme, a igreja deve inserir a pessoa nos ministérios, o interno precisa estar preparado para uma profissão. Quando está para terminar o tempo de internação, nós entramos em contato com o pastor da igreja perto da casa dele e passamos as informações sobre o interno. Depois, o pastor vai até a Comunidade Terapêutica Betel e faz o contato com o interno, que já vai chegar à igreja dentro de algum ministério, seja na música, no ensino ou no evangelismo, por exemplo. A igreja precisa se envolver mais nesse trabalho, estar na linha de frente", declarou o pastor Antenor.

Igrejas e poder público juntos
Esse entrosamento entre as casas de recuperação para dependentes químicos e as igrejas é defendido também entre representantes de órgãos públicos. A coordenadora Estadual de Saúde Mental, Álcool e Outras Drogas, Inêz Maria Antunes Paes Torres, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), afirma que atualmente são oferecidas 1.320 vagas em Centros de Atenção Psicossocial (Caps) e nos Centros de Tratamento ao Toxicômano (CTT) e que em breve a rede vai ganhar mais 2.175 vagas em 12 novos centros. Nessas unidades, segundo ela, o lado religioso é preservado.
"É preciso ter fé no tratamento, acreditar e persistir. Quanto à fé no aspecto religioso, as instâncias de serviços públicos de saúde respeitam as escolhas individuais. Cada interno dos centros pode realizar as leituras religiosas individualmente, no espaço de tratamento. Os momentos coletivos de participação religiosa ficam resguardados para participação nas igrejas de sua particular escolha", disse.

Já o secretário de Defesa Social de Vila Velha, Ledir Porto, que dos 14 aos 24 anos usou drogas, afirma que há um interesse muito grande do órgão em fazer convênios com as igrejas, porque o lado espiritual é essencial na recuperação de um dependente. "Não consigo enxergar outra saída para o usuário de drogas que não seja o apoio da família e a fé em Deus. Eu não conheço ninguém que tenha saído do vício sem fé, mas conheço muitos que saíram e voltaram porque não encontraram Cristo", argumentou Ledir Porto.

No entanto, segundo o secretário, falta ainda muita iniciativa por parte das igrejas quanto à ajuda a esse trabalho e ele destaca essa dificuldade porque é também diretor da Casa Horta de Viana, que atende atualmente 18 dependentes de drogas e tem como planejamento duplicar o número de vagas.

"As igrejas poderiam estipular metas de profissionalizar um número determinado de internos ou poderiam criar um banco de empregos para essas pessoas. Ainda não vemos essa iniciativa das igrejas e acredito que isso ocorre porque elas não acordaram para o fato de que a droga está entre os próprios membros. A droga está matando os nossos filhos, nossos netos, e o que, como igreja, temos feito para minimizar esse problema?", questionou.

O pastor, psicanalista e mestre em dependência química Francisco Veloso, que, na terceira semana de março, passou a comandar a recém-criada Secretaria Municipal de Combate às Drogas, em Vila Velha, lamenta o fato de que muitas igrejas se calem diante do mundo das drogas.

"O tratamento que as igrejas dá para esse assunto é muito superficial. Chamo até mesmo de indiferença, como se o problema fosse apenas dos outros. No entanto, por semana, no meu consultório, atendo cerca de cinco pacientes que são de igrejas. Acredito que falta aos pastores conhecimento real do assunto e também há muito medo do que se vai encontrar. A realidade é que a droga está no meio da igreja também. Os cristãos têm sofrido com isso, mas a Igreja não despertou para isso e trata isso como se o problema fosse apenas do mundo", disse.

Prioridade nos trabalhos sociais
Se a realidade dos estragos que a droga faz na vida do homem é tão evidente e dramática, e também é claro que o poder de Deus tem modificado a vida de milhares de usuários de entorpecentes pelo mundo, por que a Igreja de Jesus Cristo não tem tomado essa causa como uma de suas principais bandeiras?

São poucos os grupos religiosos que se organizam com o intuito específico de dar apoio a casas de recuperação de dependentes químicos. Por que isso ocorre se a droga já é assunto de debate nas rodas de amigos e parentes, já que alcançou a família de um ou é visto no trabalho e na escola do outro? Esse não é um problema distante. Ao contrário, aparenta estar cada vez mais perto das famílias e igrejas.

Há muitas igrejas que ignoram o problema e, mesmo tendo projetos sociais fortes sendo desenvolvidos, priorizam apenas a distribuição de alimentos, de roupas, o atendimento psicológico, médico, social. Quantas vezes a pessoa que recebe esses mantimentos passa por essa dificuldade porque sofre com o filho, o neto viciado em drogas? Ou será que a própria pessoa vive esse drama dentro de si?
"A Igreja tem errado porque tem focado no assistencialismo, distribuindo cestas básicas, comidas, fazendo tratamento médico, odontológico. Os usuários de drogas também precisam disso, é claro, mas isso não é o essencial. Eles precisam de um tratamento qualificado, pontual, para retirá-los do vício, o que a Igreja não tem feito", disse o pastor Veloso.

A droga tem causado destruição pelo mundo, levado famílias ao desespero. Ela aniquila as esperanças dos jovens, destrói a infância das crianças, corrompe o casamento, o planejamento da família. É como uma bomba que está com uma pessoa, e que, ao ser detonada, não mata apenas o usuário, mas tudo a sua volta.

Esse quadro de destruição é cada vez mais visível. A Igreja não deve ser omissa, não deve fechar os olhos para esse mal, para que ele não venha prevalecer. O resultado do comodismo dos cristãos é o avanço das artimanhas de Satanás, e a proliferação de dependentes químicos é uma prova disso.

É urgente que as igrejas reformulem suas estratégias e ampliem sua ação, saindo do conforto de seus templos para ajudar de fato, com obras e ações, a quem precisa se desvencilhar da armadilha das drogas. A mensagem de salvação que a Igreja deve pregar é o respeito à vida. E, neste caso, respeitar a vida é libertar quem está com o corpo e a alma presos no vício da destruição.